quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

TUDO FLUI

"Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo". Com essa frase, um dos meus filósofos favoritos, Heráclito de Éfeso, 540 a.C.-470 a.C., quis dizer muitas coisas, porém, nós, homens modernos (ou pós-modernos, como preferem alguns), podemos aludir à uma compreensão mais prática. Se a essência do mundo é o movimento, a transformação, uma mutação contínua, por que nossas leis parecem imutáveis, perenes e não se modificam com a mesma facilidade?
É fato, não estou inventando nada, que muitas das normas que regem determinados segmentos da sociedade já estão caducas; algumas remontam à década de 1940 ou 1950, isto é, respondiam a demandas de um mundo totalmente diferente do nosso, por isso é normal que não sirvam mais para orientar o agir na atualidade, onde a aceleração tem sido a palavra da vez.
Um só exemplo já é suficiente para mostramos o quanto carecemos de mudanças normativas. Basta considerarmos que o nosso país ainda não possui uma legislação ou uma justiça eletrônica específica para os crimes cometidos no chamado mundo virtual. E os responsáveis por agilizar essas modificações, no caso os nossos representantes no congresso nacional, perdem seu tempo julgando a si próprios e, enquanto isso, as alterações que merecem destaque na nossa legislação ficam em segundo plano. Por exemplo, quem é capaz de dizer qual emenda de relevância social foi votada recentemente? Eu, sinceramente, não lembro de nenhuma. E olha que não sou um cara desinformado.
Ora, as sociedades são dinâmicas, ainda mais na era da revolução tecnológica que vivemos, e se é assim, por que tanto imobilismo? Por que tanto receio em mudar? Existe um ditado, não muito popular, mas que vem a calhar: “pedras que rolam não criam limo”. Ou seja, numa das compreensões possíveis, o que se movimenta não fica para trás.
Por fim, não quero aqui desacreditar a representatividade e nem o fundamento democrático dos cargos ocupados pelos nossos congressistas, quero sim é deliberar uma angústia que eu, como cidadão brasileiro, possuo. É preciso ser “pedra que rola”; as mudanças são necessárias e urgentes, caso contrário a teoria não acompanha a prática, e esta sempre estará léguas a frente. A mudança, como dizia Heráclito, deve ser assumida como a essência da vida, aquela que alimenta o ser humano na sua relação com o mundo. Sendo assim, é bom não “criarmos limo”, senão ficaremos a mercê das nossas próprias incongruências normativas. Pensemos nisso!

Texto publicado no Jornal Arinos, Nova Mutum/MT

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

"a filosofia não é um longo rio tranquilo onde cada um pode pescar a sua verdade. É um mar no qual mil ondas se confrontam, onde mil correntes se opõem, se encontram, às vezes se misturam, separam-se, e voltam a encontrar-se, opondo-se de novo... Cada um navega como pode e é isso a que chamamos filosofar." Há uma perspectiva filosófica (..) mas felizmente é multifacetada.
Fernando Savater - As Perguntas da Vida.

Para viver em sociedade!

Viver em sociedade não é fácil, requer muitos sacrifícios, e talvez o principal deles seja abrir mão dos nossos desejos particulares e individuais em prol de um interesse maior que é a coletividade. Parece simples, certo? Errado! Não é isso que uma análise mais cuidadosa da sociedade brasileira nos revela. Vemos justamente o contrário permeando as relações entre os homens. Até parece que viver em sociedade é um fardo pesado demais, destinado a alguns poucos obstinados pela utopia de uma vida igualitária e de uma crença de que todos agem tendo em vista uma ética pública de respeito às pessoas.
Solidariedade, altruísmo, honestidade são virtudes que parecem pertencer a poucos super-homens, pessoas abnegadas e entregues a uma vida simples e de ajuda às pessoas. Infelizmente a ordem do dia é ser “esperto”, individualista, ambicioso, levar vantagem em tudo. Esse é o tipo ideal (mas não deveria ser) de homem. Esses desvios de comportamento, ou como preferem alguns, vícios, levaram a sociedade brasileira a uma crise de valores morais sem precedentes, onde a corrupção, a violência (de todo tipo), intolerância, preconceito, campeiam sem que nada ou muito pouco seja feito para freá-las. E certamente a sensação de impunidade corrobora com tal situação.
Thomas Hobbes (1588-1674), filósofo inglês, afirmava em sua época que “o homem é o lobo do homem”. Não precisamos nos esforçar muito para apreender o peso dessa afirmação, mesmo em dias atuais. Para viver com um mínimo de harmonia em sociedade nós temos um só inimigo, nós mesmos.
Longe de fazer aqui um discurso reacionário ou retrógrado, dizendo que no passado que era bom, que hoje está tudo uma bagunça, ninguém mais se entende, quero apenas externar algo em que acredito piamente: nem todas as mudanças que aparecem e que ganham a pintura de “moderno” ou de “progresso” necessariamente o são. Só há progresso moral quando os novos valores ou padrões de comportamento que surgem agregam à coletividade, nos tornando mais humanos, mais tolerantes, mais propensos a vida em sociedade. Precisamos acreditar que a democracia é a melhor maneira de se viver e que qualquer tipo de violência deve ser rechaçada. Não me perguntem onde está ou de quem é a culpa por este mundo de barbárie e selvageria comportamental, onde todos fazem o que querem sem ao menos refletir sobre seus atos. Precisamos parar e pensar em que sentido o que fazemos em favor de nós mesmos (individualismo exagerado) reflete na vida de outras pessoas. Se está interferindo negativamente é preciso analisar o nosso proceder.
Enfim, o fato é que o mundo modifica-se numa velocidade de deixar qualquer um atônito, assim é natural nos sentirmos perdidos, sem saber que direção enveredar, porém a principal arma que temos para lidar com essas situações é o já aclamado “bom senso”. Para que não nos tornemos “canibais” da nossa própria espécie, destruindo o viver em sociedade, precisamos proceder pensando no coletivo e não somente em nós mesmos. Precisamos, mais do que nunca, agir com ética!
Voltem sempre!